Peregrino da Ilusão

Illusion’s Wanderer – Peregrino da Ilusão do Ep Anciente de Orange Poem com Mateus Aleluia, 2014 produzido por Mirdad. Letristas (Ildegardo Rosa & Mateus Aleluia)

Na ausência do personagem, o ausente se faz presente.
O Ausente se faz presente através do verbo.
Antes de tudo, o verbo.

Para que direção corre o curso da vida?
Para cima, para baixo, para um lado, para outro?
Para frente ou para traz? 
Ou corre para lugar nenhum?

Então observe apenas,
Não interrompa, e nem Interfira
Observa apenas, deixe-o simplesmente correr,
Não importa para onde.
O que importa é estar bem, é ser ele mesmo,
Pois este é nosso destino, nossa condição.

Não te arremesses no amanhã,
No que desejas vir a ser,
Nem se agarre no passado,
No que já foi e não voltará,
São meras fugas e ilusões.

O que tú tens de concreto, 
E não importa o que te aconteça,
É este instante.
Não tente escapar dele,
Viva com plenitude e coragem,
Esgote-o,
Ele é a tua única realidade.
Mesmo que nada seja real.

Porque se agarrar a vida,
Agarra-se a vida é perdê-la,
A vida é um processo
É um fluxo eterno,
É um estar indo, não importa para onde.
Mesmo que a lugar nenhum,
Vá com a vida, Vá com a vida.

Deixe a vida olhar para o teu umbigo,
Como fosse o centro do mundo.
O teu destino pessoal não tens a minima importância.
Você é apenas um fenômeno, passageiro e ilusório,
Uma emanação do que és, e sempre foste, e sempre será.
Eternamente.

Desperta homem, 
Aí então saberás que esta eternidade é tú mesmo,
E tudo o mais que existe.

Não penses que o mundo gira em torno de ti,
Quão pequenina e fugaz é tua megalomania 
Dentro da natureza.
Enquanto estiveres cheios das tuas coisas,
Tesouro, Paixões, Posses, Desejos, Sofrimentos, Deuses e Ilusões.
Enfim do teu próprio ego que carrega,
Tú estarás no nada.
No sem sentido, na ilusão.
Corri como um louco em busca da felicidade
E trouxe apenas, as mãos vazias
E um pendente de ilusões.

Caminhei então devagar, em busca do meu próprio destino
E hoje trago as mãos cheias,
Carregada de vida.

Me aconteci, me manifestei, me existi.
Sou um ser que esta fora,
Para fora estão os meus olhos, 
Que percebem as ilusões do mundo.

De fora, entra o ar que respiro
E mantenho meu alento
Lá fora é que estão o céu e o inferno,
Os anjos e os demônios.
Os que me envolvem de amor,
E os que me sufocam de tanto ódio.

Como então posso retornar para dentro?
Desde o principio, que nunca principiou 
Pois sempre foi, é, será,
Eu sou.

Não há caminho a se percorrer,
Algum Deus a se buscar, 
ou iluminação a se alcançar.
Tudo já esta pronto como sempre esteve.

Apenas abra os olhos, 
Pois o des-mistério acontece,
Se revela o que era irrevelável.
Faça a minha ignorância, meus pecados, as minhas ilusões.
Desde o principio, 
Eu Sou.

Porque não existe, nem o dentro, nem o fora.
Apenas o ser,
Aqui e Agora.

Porquê então se busca sentido?
Eu venho de lugar nenhum e vou para nenhum lugar.
Porquê então se busca sentido?
Eu venho de lugar nenhum: aqui e agora,
E vou para nenhum lugar: aqui e agora.

Porque não existe ( aqui e agora) ,
Porquê então se busca sentido?

Nenhum Lugar,
Nenhum Lugar,
Nenhum lugar.

Agora deixarei o mistério acontecer por si mesmo
E se auto-desvelar a cada instante,
Por toda a eternidade.

Agora relaxarei profundamente
E sessarei esta tentativa ansiosa, desespera e sofrida,
De querer desvelar o mistério e tudo.

Agora viverei a vida que esta presente 
E a cada instante acontece e desacontece,
Não importando seu destino e sua razão de ser.

Não olhes para o alto em busca de soluções.
Porque o alto é apenas uma distância vazia e inexpressiva
Não olhes para esquerda ou para a direita, 
Porque são apenas posições relativas.
Não olhes para traz, pois apenas entortarás a cabeça,
Em busca de um passado que não retorna jamais.
Não olhes para frente, pois seguirás em vão,
Em tua estrada, sem rumo e sem destino,
Que te conduzirás a morte.
Olhe apenas para dentro de ti,
Pois aí esta a solução.
De quê, só tu saberás.

Eu sei ou quase sei,
Que estou lá ou aqui, pouco importa.
O mundo é uma ilusão.

Illusion’s Wanderer” encerra o EP Ancient e é a primeira faixa em português do repertório laranja. O produtor Mirdad separou 14 trechos de poemas inéditos do seu pai e montou-os em um texto só, seguindo a lógica do pensamento metafísico dele. Retirou a voz e melodia de uma canção laranja descartada e colocou no lugar o próprio pai recitando os poemas (gravação feita em 2008 para um outro projeto, LÄZRE, que não rolou). Para saber mais clique aqui para acessar o blog Emmanuel Mirdad, o Lampião e a Peneira do Mestiço detalhes sobre o album completo.

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