Ela olhou pra trás e perguntou se poderiam tomar um suco, falaram juntos, riram da situação e deram as mãos.
Os sinos tocaram no ouvido dela.
Os sinos tocaram sem parar.
Finalmente encontrará o amor.
“Que se dane o evangelho … que se danem os orixas, serás o meu amor, serás pra sempre a minha paz.“
Essa música tocava em sua cabeça sem parar, era assim que ela sentia-se naquele instante.
Tomaram o primeiro suco. Pediram mais 03.
Riram, brincaram… eles não paravam de falar.
Caminharam juntos em direção a casa dela.
Deitaram em sua cama de lençóis floridos e abraçados dormiram.
Apenas dormiram, e ele não conseguia acreditar.
Os meses foram passando, as coisas se consolidando e ele foi viajar.
Sentiram saudades, ele ligava sem parar.
Decidiram viver juntos. Nunca mais iriam se separar.
Consumaram sua união enquanto os sinos continuavam tocavam, os sinos tocavam sem parar.
Ele ficava distante, calado, e logo voltavam a se procurar.
Ela entendeu portanto que esse era o seu jeito de amar.
07 anos se passaram e tudo colorido, seguia.
Tiveram uma filha linda, ela mudou de profissão, ele diminuiu as viagens, e o amor crescia todo dia um pouco mais.
A vida mudou, eles mudaram. E tudo, tudo poderia acontecer, não importava, eles sempre iriam superar.
Outro inverno chegou.
Brigaram, fizeram as pazes e ele novamente foi viajar.
Discutiram novamente, a saudade cortava, ela buscava em seus amigos o conforto; a ilusão de um lar.
O telefone tocou. Era ele.
“Que vontade de dizer eu te amo” ela pensou.
Porém se segurou, não queria banalizar esse sentimento dizendo isto a todo momento. Ele mesmo havia pedido para ela se policiar.
Seriedade em sua voz enquanto dizia que queria que ela o esperasse acordada. Precisavam conversar.
E ela esperou; ansiosa, perfumada, arrumada; Iriam em definitivo se reconciliar.
Era 25 de agosto, um dia frio, aquela chuvinha fina caia lá fora.
Ele sentou na beirada da cama e começou a falar, ele não a olhava nos olhos, pedia desculpas e pediu para que ela paresse de tentar.
Sua boca então começou a se mexer lentamente …
– “Nunca te amei”
ele sussurou.
-” Peraí, não entendi !”
ela exclamou
-“Eu disse que nunca te amei.”
E Foi ai que o coração dela parou.
Ele ali … sentado na beira da cama, dizendo Adeus, pedindo desculpas por todas as mentiras, explicando que havia tentando, que ela era perfeita e que não adiantava, por mais que ele tentasse, não conseguiria ficar. Ele falava sem parar.
Alegava que era injusto com ele mesmo ao abrir mão dela, por isso tinha adiado tanto e deixado o tempo passar, porém era nítido que ambos estavam esgotados e que eles não podiam mais se machucar.
– “É injusto deixar passar mais tempo, eu não te amo amor, e a mulher que eu deixei por você, ela estava me esperando, estes anos todos, me esperando entende? Eu tenho que tentar.”Então ela pode sentir os passos dele em direção ao corredor, ele fechou a porta e ela o ouviu chorar.
– “Nosso amor nunca existiu” ela gritou calada.
agora os sinos não tocavam, eles a acertavam no estomago e tudo oque ela queria era sair dali … ela queria voltar no tempo, ela queria nunca ter olhado pra trás.O suco, as mãos dadas, todas as primeiras vezes que ela entregou a ele.
Tudo girava dentro dela sem cessar, um rodamoinho de angustia a arremessando contra ela mesmo. Um pesadelo do qual ela não conseguia acordar.
E ali deitada, ela permaneceu, tendo vertigens com tantas lembranças que a atormentavam naquele momento, sozinha, tentando inventar uma mentira que pudesse consola-la.
07 anos se passaram e ele, na beira da cama dizendo que o mundo dela, girou, girou mas nunca saiu do lugar.
Mari Araújo