Dar a Luz

O Sol se escondia atrás de algumas nuvens que não conseguiam ocultar seu brilho e o vento frio soprava incessantemente.

No auge dos meus 77 kilos, nem aquele vento era capaz de me deixar com frio; até então eu não sabia ser tão pesada, meu peso máximo até 09 meses atrás havia sido 50 kilos.

Imagem de Alex Grey

O peso fixava meu pés a terra, fazendo-me fincar raízes.

Minha matéria segurava meu espírito no chão. Dez minutos de caminhada me separavam da maternidade, caminhada esta que durou quase 30 minutos, cada passo era seguido de um calafrio que percorria não apenas meu corpo, o calafrio dançava no minha alma.

A medida que caminhava eu percebia as poucas árvores que brotavam do concreto, com suas raízes fincadas ao chão … antes, eu só queria ser passarinho … agora eu quero é ser árvore.

Era definitivo, dali pra frente, nada, nunca mais, seria igual.

Com a mão fria e o coração na boca entrei na maternidade, tomada por uma contração tão forte que tudo a minha frente se tornava confuso. Dei os primeiros passos rumo a recepção enquanto ligava para minha médica, ela precisava chegar antes que qualquer um ali quisesse me obrigar a tomar qualquer sintético para dilatar, contrair, amenizar a dor ou coisa do tipo, eu queria um parto normal … sem anestesia.

Eu queria um parto natural.

Mesmo que tivesse que ser em uma maternidade com uma ginecologista.

Outra contração, uma parte de mim insinuava que talvez eliminar aquela dor não fosse má ideia, porém meu ser, como um todo, queria que fosse um parto genuíno.

Até o tempo parecia passar em outro ritmo, apesar de tantas ansiedades, as coisas estavam em câmera lenta naquelas 02 horas que antecederam o choro mais doce que já tive o prazer de escutar.  Era como se aquela dor liberasse tanta adrenalina em mim que nada podia me derrubar.

Hora do tapinha … felicidade, medo e certezas me inundavam e transbordavam pelos meus olhos em forma de lágrimas.

Dali para frente, a vida, nunca mais perderia o sentido, eu havia me tornado luz e multiplicado.

Agora o chamado é zelar por aquela sementinha de luz que saíra do meu ventre.

Agora sou mãe !!!!

 

Mari Araújo

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