xico sá em a beleza da mulher que vai embora
Quando não há mais nada a dizer e só o “passa a farofa”quebra o silêncio na mesa.
Nada mais a comentar naquele restaurante barulhento de domingo. Tudo em câmera lenta, uma demora de séculos até a sobremesa. Nem a calda quente de chocolate do petit gateau aquece aquela mulher triste.
“Passa o azeite”.
O homem disfarça o tédio com uma ponta de olho no jogo Portuguesa x Botafogo.
Até o garçom, velho conhecido do casal, sente o drama.
“Passa a pimenta”.
Eles não conseguem dizer um para outro nem que a comida do de “O Caranguejo”está ótima. Não há moqueca que alivie o domingo frio daquelas pobres almas.
Aquele sábado em Copacabana já era… Depois num bar à meia-luz, never more, esqueça.
Os corpos também já não se entendem, velho Bandeira, nem para esquentar os pés nesse friozinho de agosto.
Não há mais o que ser dito. Só o silêncio ainda os une. Não há sequer D.R., a mitológica discussão de relação. Eram viciados nessa prática que os conduzia, inevitavelmente, ao sexo selvagem.
Só o iphone salva antes de chegar a conta. Só o aparelho disfarça o delito de levar o amor àquela condição irreparável.
Não há o que postar no facebook. Estão em um relacionamento “fala sério”. Estão em um relacionamento águas passadas.
Só a inércia segura sob o mesmo teto. Só a preguiça.
O fim do amor dá mais trabalho do que fazer o mundo em sete dias.
Se conheço minimamente uma mulher, de hoje não passa. Ela não suporta mais. Vai desabafar e fazer subir os créditos do filme e o “the end”.
Sim, porque homem só empurra com a barriga de chope e picanha completa. Homem é vírgula e vacilantes reticências, só uma fêmea crava o ponto final no enredo.
De hoje não passa. Reparo que ela não aguenta. Não há calda quente de chocolate que aqueça o sorvete do desprezo.
Garçom, por favor, a conta.
Ele vai chegar em casa e ligar a tevê para o segundo tempo do jogo. Ela vai começar a arrumar a mala.
Ele vai quebrar o silêncio, aos berros, ao terceiro gol do Botafogo. Vestido no mesmo moletom preto com listas brancas que ela detesta. O uniforme oficial do tédio e da rotina.
Ela vai dizer basta silenciosamente. Não é possível que ele não repare como andam as coisas, ela pensa. Ela se contorce de raiva. De hoje não passa.
Ela despeja a gaveta de calcinhas numa sacola. Ele liga para amigos que torcem pelo mesmo time. Ele vai comemorar. Ela diz baixinho “vai ver se estou na esquina”.
Agora a mesma moça arrasta a mala entre triciclos e famílias supostamente felizes na Avenida Atlântica. Sente o vento frio nos olhos pintados com requinte de vingança e a impressão de que já vai tarde.
Nada supera a beleza do momento em que uma mulher resolve ir embora.
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