Amor

Imagem do dueto artístico unidade andrógena de  Marina Abramovic 
E quanto a flecha que tinhas apontada para o meu peito?
Agi sempre como se ela não estivesse ali, como se você fosse inofensivo; mas ninguém é inofensivo. Por mais que o amor tentasse me ocultar esta evidencia, sim, eu corria perigo, meu coração corria, o seu também !!!!
Então, já impaciente, provoquei, fui provocada e tive medo de perder minha fé novamente, tive medo de perder tudo oque conquistei de força emocional, ali, diante da tua flecha que eu com paciência, aguardava um leve e fatal escorregar de dedos.
Você poderia me poupar ou não e na dúvida, me mantive ali, esperançosa, por meses. Com medo, com desejo, com força de vontade, permaneci, assim,  aprisionada a você.

Eu pensava em fugir … em abrir mão de tudo; de você, do certo, do errado, da espera e do amor que ainda agora parece infinito. Entretanto me dispus e permaneci, impávida, aparentemente sob controle, estável.  Me permiti tentar de todas as formas reconquistar meu espaço na tua vida. Com sutilezas, provocações, e até mesmo com meu silêncio.
Esgotei minha paciência, joguei fora meu orgulho, mas permaneci ali, alguns meses ainda, diante da tua flecha, esperando qualquer que fosse a sua decisão. Soltar a corda e me ferir ou apenas jogar o arco no chão, me tomar pela cintura findando esta espera em um beijo.
Foi então que dezembro chegou; o ano encerrando, o temido “fim  do mundo” se aproximando e todavia você ainda não disparou a flecha. Pelo contrário, você repete a mesma coreografia. Se aproxima encostando a flecha no meu peito, cheira meu pescoço, me beija loucamente e se afasta, sem nunca abaixar a guarda, sempre com a ponta afiada da flecha em peito que exibi hoje pequenas perfurações superficiais que poderiam inflamar a qualquer momento, enquanto eu te via dia a dia desistindo de mim, titubeando,  duvidando da sua própria escolha, mas tão pouco largava o arco e me permitia partir, você me mantinha ali, sob o domínio dos teus encantos, na mira da tua flecha.
Mas com o peito marcado quem desisti sou eu.

Porém antes em uma ultima tentativa desesperada, gritei injurias na espera de ter meu peito atravessado por ela, a flecha, que você não recolhia, nem disparava. Eu já estava pronta para seguir em frente, vertendo em sangue todo aquele amor que lapidei pra você. Contudo não foi como eu esperava, você apenas se manteve ali amedrontado com a possibilidade de me ferir mortalmente, me usando e esperando que eu fosse embora quando me cansasse de ser usada.
Conseguiu !!!! Agora sou eu quem solta o arco e desisti de tudo.
Cansei das noite escondidas, dos nossos gemidos, da espera que nunca mais chegou ao fim. 
E não deveria ter sido assim, eu poderia ter me respeitado mais e ter dado as costas a você quando tive a oportunidade, entretanto, não o fiz; ao contrario disso, fui eu que me lancei e agarrei seu arco com indagações do tipo “E agora? Atira”.
Você não atirou, não sei se por covardia ou por respeito, seja como for carrego comigo a certeza de que não desisti antes de se esgotarem todas as possibilidades que pude vislumbrar e hoje, sigo.
Sua flecha, não irá mais me alcançar. 
 
Mari Gertrude

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