Apesar de tão poucas palavras chegarem nas pontas de seus dedos para que as despeje no papel, tantas percorrem seus pensamentos que ela perde-se em si mesma e no cansaço intenso que sente.
Cansaço emocional e mental …
A vida corre num ritmo tão louco e desenfreado enquanto ela inutilmente tenta driblar o tempo, percorrendo o caminho que lhe parece mais conveniente no momento, sem refletir de fato sobre suas escolhas, preocupando-se apenas com as decisões a serem tomadas e o impacto material que elas lhe causam.
A menina esta perdida…
Perdida de tal maneira nesta caminhada da sobrevivência emocional, que acumulou tarefas, compromissos, amigos, lugares, conhecimentos e esqueceu-se quem de fato ela é, e qual o motivo pra seguir sendo e vivendo como toda gente faz.
Para seguir, deixou de lado a fé: nas pessoas, na vida e a fé em um Deus qualquer …
Ela, como quase toda gente se entregou a frieza, vestiu a falsidade, cauterizou as feridas do coração e continuou.
Contudo depois de tanto levando em conta apenas o ter, viu-se cansada de tal forma que teve náuseas, vertigens e calafrios.
Era a abstinência da essência que a visitava
E desta vez tomava a forma de fadiga … estafa … era preciso portanto, acreditar outra vez, e se entregar a vida até descobrir suas paixões. Esboçar o que espera da sua interação com o universo e tudo aquilo que nele habita.
Era necessário agora construir o caminho do seu auto-conhecimento … sem pressa … desfrutando de cada pedacinho desta descoberta…
Mas a pressa é pre-requisito pro nascimento hoje em dia, e desacelerar agora parece algo tão impossível que talvez abandonar a terapia e parar de vasculhar as gavetas seja a melhor ideia.
E assim, encolhida na cama com a folha de papel, ainda em branco a sua frente, ela sonha com o fim da náusea e da pressa. E faz isto sussurrando “Pessoa” por entre os dentes cerrados e com olhos semi abertos, protegidos dos raios de sol:
“Para SER grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és, no mínimo que fazes”